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Brasil precisa de satélites para a gestão e conservação dos estoques pesqueiros

por INPE
Publicado: Set 29, 2006
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São José dos Campos-SP, 29 de setembro de 2006

Imagem Brasil precisa de satélites para a gestão e conservação dos estoques pesqueiros

Muitos satélites são utilizados para estudar os oceanos e o monitoramento ambiental marinho é essencial para compreender por que os estoques de peixes estão diminuindo no mundo todo, inclusive no Brasil. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) reuniu cientistas e representantes de instituições públicas e de organizações não-governamentais para analisar métodos para a gestão e conservação pesqueira baseados no sensoriamento remoto, técnica para obtenção de dados por sensores de satélites geradores de imagens. As apresentações técnico-científicas e debates do I Seminário de Sensoriamento Remoto Aplicado à Pesca (SSRP), nos dias 11 e 12 de setembro, resultaram numa série de recomendações para contribuir com o setor pesqueiro brasileiro.

“O Brasil precisa investir na análise ambiental de dados marinhos pretéritos, no monitoramento marinho em tempo real e no rastreamento das embarcações brasileiras por meio de satélites nacionais que tenham capacidade de coleta de dados para esse fim”, diz Ronald Buss de Souza, pesquisador do INPE e um dos coordenadores do SSRP. Ele explica que é necessária a implementação de centros operacionais de coleta, processamento e distribuição de dados de sensoriamento remoto aplicados à pesca. “Também é fundamental o treinamento para a análise dos dados e a colaboração entre as diversas instituições”.

Entre outras iniciativas, o documento com as recomendações do SSRP reivindica que sejam incluídos recursos para o monitoramento dos estoques pesqueiros nos próximos Planos Setoriais para os Recursos do Mar, bem como a criação de um fundo setorial específico para suprir demandas de pesquisa e formação de pessoal especializado.

O sensoriamento remoto pode ser usado para estimar diversos parâmetros como a temperatura da superfície do mar, concentração de clorofila, altura do nível do mar, ondas, correntes marinhas, ventos e outros, além do monitoramento das embarcações pesqueiras. Dados pretéritos de abundância de estoques e desembarque de pescado na costa do Brasil estão disponíveis no Ibama, Instituto de Pesca de São Paulo, universidades e outros órgãos. “Existe uma relação entre a variabilidade dos estoques pesqueiros e a variabilidade das condições naturais dos oceanos, como efeitos causados pelos ciclos naturais do planeta, por fenômenos como El Niño e também por outros fatores de origem antrópica”, explica o pesquisador Eduardo Tavares Paes do INPE (também coordenador do evento), lembrando que as causas para a diminuição dos estoques de peixes ainda não foram totalmente esclarecidas e precisam ser melhor estudadas.

Abaixo, exemplos da relação entre dados ambientais marinhos e captura de peixes.

Carta de temperatura da superfície da água do mar (SST) em graus centígrados do sensor AVHRR (Advanced Very High Resolution Radiometer) média do mês de julho de 1989, ano de La Niña (evento de anomalias de SST no Pacífico Equatorial). A imagem mostra a penetração de águas frias provenientes de sul na plataforma sul-sudeste do Brasil, penetração esta que é comum durante o inverno nesse local. Essas águas são responsáveis pela manutenção de nutrientes na água do mar que alimentam o fitoplâncton e, conseqüentemente, os estoques de juvenis de alguns peixes como a sardinha verdadeira (Sardinella brasiliensis - figura abaixo). Esses juvenis, se bem alimentados, vão ter sua fecundidade aumentada e a desova, que sempre ocorre nos meses de verão, será mais efetiva.

Carta de anomalia de temperatura da superfície da água do mar (ASST) do sensor AVHRR (Advanced Very High Resolution Radiometer) média do mês de julho de 1989, ano de La Niña, em relação à média de todos os meses de julho entre 1985 e 2004. A imagem mostra que as águas frias provenientes de sul na plataforma sul-sudeste do Brasil estão cerca de 1°C mais quentes do que o normal (1°C positivamente anômalas). A anomalia positiva provavelmente contribui para a menor disponibilidade de nutrientes na água do mar e, consequentemente, uma desova pouco eficiente, o que acarretaria uma captura menor no ano seguinte: 1990.

Comparação das séries de tempo de ASTT ao longo de 4 locais na costa sul-sudeste do Brasil (estados de RS, SC, SP e RJ) mostrando que um ano depois de eventos de La Niña (ex. 1989, seta preta) ocorre uma diminuição das capturas de sardinha da costa sul-sudeste do Brasil. Um ano depois de eventos de El Niño (setas vermelhas), o inverso ocorre: aumento das capturas. Os dados de captura (em toneladas) são disponibilizados pelo IBAMA.


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