Notícia
Tese propõe políticas públicas alternativas para Amazônia
São José dos Campos-SP, 30 de agosto de 2006
Os principais mercados do país, como São Paulo e Nordeste, têm influência direta na ocupação da Amazônia. Desconsiderar este fator tornará ineficaz qualquer medida de controle do desmatamento na região. Esta é uma das conclusões da tese de doutorado de Ana Paula Dutra de Aguiar, defendida recentemente no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. A principal hipótese analisada no trabalho é a importância de medidas de conectividade a mercados para explicar os padrões espaciais de ocupação da Amazônia, explica a autora de Modelagem de mudanças do uso da terra na Amazônia: explorando a heterogeneidade intra-regional.
Para a pesquisadora, a distância de grandes centros urbanos ou de estradas, a conexão com o mercado, o clima e a existência de áreas protegidas são os fatores que ditam se uma área é mais ou menos propensa a ser desmatada. Para explorar hipóteses sobre o processo de ocupação humana na Amazônia, ela utilizou uma versão adaptada para a Amazônia do modelo computacional CLUE. Os resultados da tese explicam tanto padrões de desflorestamento do passado como a dinâmica recente das novas áreas de ocupação na Amazônia Central, através de um modelo que projeta mudanças no uso da terra.
O modelo é utilizado para explorar impactos de políticas públicas alternativas nos padrões de desflorestamento no médio prazo (até 2020). São analisadas obras de infra-estrutura de estradas, criação de áreas protegidas e medidas de controle de atividades ilegais. Os resultados mostram o impacto não homogêneo das políticas na região, quando considerada a diversidade de condições biofísicas, sócio-econômicas e de acessibilidade em diferentes partes da região, diz a Dra. Ana Paula.
Os resultados do modelo ilustram a capacidade do setor produtivo de se reorganizar e redirecionar a ocupação para novas áreas, de modo a atender uma demanda interna e externa crescente por produtos agropecuários (em especial, carne e soja). Uma questão importante abordada pelo trabalho são efeitos regionais, não necessariamente benéficos, de políticas públicas aplicadas apenas localmente - por exemplo, ações pontuais da Polícia Federal e Ibama para coibir atividades ilegais. A principal recomendação em termos de políticas públicas é justamente esta: a necessidade de medidas de controle abrangentes que considerem os efeitos regionais da pressão do mercado, e busquem minimizar esta pressão e organizar o processo de ocupação em todas as suas frentes, conclui a Dra. Ana Paula Dutra de Aguiar.
Pesquisadora
A Dra. Ana Paula Dutra de Aguiar atua em projetos sobre a Amazônia desde 1994. Graduada em Ciência da Computação pela Unicamp, fez mestrado na área de sensoriamento remoto também no INPE, onde trabalha na Divisão de Processamento de Imagens desde 2002. Atualmente participa do GEOMA Rede Temática de Modelagem Ambiental da Amazônia, iniciativa governamental que integra institutos de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Sua tese Modelagem de mudanças do uso da terra na Amazônia: explorando a heterogeneidade intra-regional, orientada pelo Dr. Gilberto Câmara, atual diretor do INPE, foi apresentada no último dia 8 de junho. Na banca, como convidados, Dr. Tom Veldkamp, da University of Wageningen (Holanda), Professor de Ciências do Solo e Avaliação Ambiental, referência internacional na área de modelagem, e o Dr. Emilio Moran, Indiana University (Estados Unidos), Professor de Antropologia, Geografia e Ciências Ambientais, autor de diversos livros sobre a Amazônia e o impacto das mudanças ambientais. Também participaram da banca os pesquisadores do INPE: Dr. Dalton Valeriano, Dra. Corina Freitas e Dra. Maria Isabel Escada.
Figuras: Exemplo de cenários explorados na tese. No caso (a), a demanda por terra aumenta gradativamente (e sem controle) até um patamar de 35.000 km2 por ano em 2020. No caso (b) ela é controlada no patamar de 15.000 km2 por ano. As áreas mais escuras apresentam maior mudança no período de 1997 até 2020. Analisando a Amazônia Central no caso (a), o modelo projeta uma degradação mais intensa no Estado do Pará, dadas suas melhores condições de conectividade e presença de centros urbanos. Neste cenário, as áreas não protegidas por Unidades de Conservação ou Terras Indígenas no centro e sul do Pará são totalmente ocupadas. No caso (b), a ocupação permanece mais intensa no Mato Grosso, e em áreas previamente ocupadas na região Central, como a Transamazônica.
(obs: área de estudo exclui as áreas de cerrado e áreas com nuvens nas imagens utilizadas para mapear o desflorestamento em 1997)
Contexto: Projeto GEOMA Rede Temática de Modelagem Ambiental da Amazônia, formada por diversos institutos do MCT.
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