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Brasil vigia seu território com tecnologia nacional

por INPE
Publicado: Out 21, 2005
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São José dos Campos-SP, 21 de outubro de 2005

Imagem Brasil vigia seu território com tecnologia nacional

Os dois anos do CBERS-2 marcam o cumprimento do primeiro acordo sino-brasileiro, já renovado para a construção de mais três satélites

Com o lançamento do primeiro CBERS (sigla para China-Brazil Earth Resources Satellite, que em português significa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), o Brasil passou a dominar a tecnologia para o fornecimento de dados de sensoriamento remoto. Até então, o país dependia exclusivamente de imagens fornecidas por equipamentos estrangeiros. A cooperação entre cientistas brasileiros e chineses no desenvolvimento de tecnologias espaciais resultou no satélite CBERS-1, lançado em 1999, e no CBERS-2, em órbita desde 2003. Desde a assinatura do acordo de cooperação, em 1988, Brasil e a China já investiram mais de US$ 300 milhões para a implantação de um sistema completo de sensoriamento remoto de nível internacional. Dezessete anos depois, o Brasil hoje é um dos maiores distribuidores de imagens orbitais do mundo.

A parceria não inclui a transferência de tecnologia entre os dois países, e cada um precisou transpor os obstáculos que surgiram no desenvolvimento daquele que era o primeiro satélite do gênero tanto para o Brasil como para a China. Antes do CBERS, os brasileiros haviam construído o SCD - Satélite de Coleta de Dados, de menor porte. "Do SCD para um satélite grande como o CBERS foi um grande passo", resume Janio Kono, coordenador do Programa Sino-Brasileiro no INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que tem a missão de desenvolver e construir os satélites do Brasil. Na China, o programa está sob a responsabilidade da CAST - Chinese Academy of Space Technology.

Além do conhecimento tecnológico, o programa espacial também traz benefícios sociais, demonstrados durante o "Seminário de Aplicações do CBERS-2 - 2º Ano de Sucesso", realizado pelo INPE nos dias 19 e 20 de outubro. A utilidade das imagens foram apresentadas por alguns dos maiores usuários do satélite, como Petrobras, IBGE, Incra, Embrapa, Ibama, ANA, organizações não-governamentais e empresas de geoprocessamento. O IBGE, por exemplo, usa os dados para atualizar seus mapas em projetos de sistematização do solo, assim como o Incra emprega as imagens nos processos ligados à reforma agrária. As aplicações no setor agrícola e de monitoramento ambiental costumam causar maior impacto econômico e social devido às dimensões continentais do Brasil. Sem uma ferramenta acessível, vigiar um território tão extenso seria quase impossível.

É importante destacar que neste dia 21 de outubro, quando o CBERS-2 completa seu segundo ano de operação, o Brasil fecha um ciclo de desenvolvimento tecnológico na área espacial. Quando foi assinado o contrato com a China, previa-se a construção de apenas dois satélites de sensoriamento remoto, cada qual com vida útil estimada em dois anos. O sucesso do programa pode ser comprovado pela renovação do acordo, firmada durante a visita do presidente da China ao INPE em 2002. Com número cada vez maior de usuários, o CBERS não terá seu fornecimento de imagens interrompido, pois até 2011 deverão ser lançados outros três satélites, mais sofisticados, que renovam o desafio para a engenharia espacial brasileira.

O Satélite
O CBERS-2 é equipado com câmeras para observações ópticas de todo o globo terrestre, além de um sistema de coleta de dados ambientais. O satélite está em órbita síncrona com o Sol a uma altitude de 778 km, completando 14 revoluções da Terra por dia. Este tipo de órbita faz com que o satélite sempre cruze o Equador às 10h30 da manhã, hora local, provendo assim as mesmas condições de iluminação solar para tornar possível a comparação de imagens adquiridas em dias diferentes.

Além do módulo com a carga útil, o satélite possui ainda outro módulo para os equipamentos de suprimento de energia, controles, telecomunicações e demais funções necessárias à operação. Os dados internos para monitoramento do estado de funcionamento do satélite são coletados e processados por um sistema de computadores antes de serem transmitidos à Terra. Um sistema de controle térmico garante o ambiente apropriado para o funcionamento dos sofisticados equipamentos do satélite.

Uma das maiores vantagens do CBERS-2 é a diversidade de câmeras com diferentes resoluções espaciais e freqüências de coleta de dados. O Imageador de Amplo Campo de Visada (WFI - Wide Field Imager) produz imagens de uma faixa de 890 km de largura, permitindo a obtenção de carta-imagens com resolução espacial de 260 m. No período aproximado de cinco dias, obtém-se uma cobertura completa do globo.

A Câmera Imageadora de Alta Resolução (CCD - High Resolution CCD Camera) fornece imagens de uma faixa de 113 km de largura, com uma resolução de 20m e capacidade de orientar seu campo de visada dentro de ± 32 graus, possibilitando a obtenção de imagens estereoscópicas de uma certa região. Além disso, qualquer fenômeno detectado pelo WFI pode ser focalizado pela Câmera CCD, para estudos mais detalhados, através de seu campo de visada, no máximo a cada três dias. A Câmera CCD opera em 5 faixas espectrais incluindo uma faixa pancromática de 0,51 a 0,73 µm. As duas faixas espectrais do WFI são também empregadas na câmera CCD para permitir a combinação dos dados obtidos pelas duas câmeras. São necessários 26 dias para uma cobertura completa da Terra. Sua resolução é ideal para observação de fenômenos ou objetos cujo detalhamento seja importante. As bandas da CCD estão situadas na faixa espectral do visível e do infravermelho próximo, o que permite bons contrastes entre vegetação e outros tipos de objetos.

O Imageador por Varredura de Média Resolução (IRMSS - Infrared Multispectral Scanner) tem 4 faixas espectrais e estende o espectro de observação do CBERS até o infravermelho termal. O IRMSS produz imagens de uma faixa de 120 km de largura com uma resolução de 80 m (160 m no canal termal). Em 26 dias obtém-se uma cobertura completa da Terra que pode ser correlacionada com aquela obtida através da câmera CCD.

Atualmente, apenas a CCD está em operação. Em abril deste ano, um problema no suprimento de energia do CBERS-2 exigiu o desligamento das outras duas câmaras, para economia de energia. A falha não afetou significativamente os usuários, porque as imagens da CCD correspondem a cerca de 90% da demanda.

Imagens gratuitas
A atual política de distribuição do governo brasileiro oferece sem custo as imagens para todos os usuários brasileiros, o que inclui órgãos públicos, universidades, centros de pesquisa e ONGs, além da iniciativa privada.

Para o CBERS-2, foi desenvolvido no Brasil um moderno sistema de processamento das imagens, que possibilitou a redução dos custos de geração dos produtos. As imagens são recebidas na unidade do INPE em Cuiabá, Mato Grosso, passando em seguida para a unidade de Cachoeira Paulista, São Paulo, onde são processadas para distribuição aos usuários. O acesso é feito pela Internet, mediante um breve cadastro (www.obt.inpe.br/catalogo).

"Pela quantidade e origem dos pedidos de imagens, comprovamos que o CBERS-2 possui uma ampla gama de aplicações. Os dados são usados tanto por empresas de geoprocessamento como instituições públicas, servindo também a pesquisadores e estudantes", conta José Carlos Neves Epiphanio, coordenador do Programa de Aplicações CBERS do INPE.

As aplicações das imagens obtidas a partir dos satélites CBERS são realmente as mais variadas, desde mapas de queimadas e desflorestamento da região amazônica, até estudos na área de desenvolvimento urbano. O agronegócio, atividade em expansão no país, é um dos segmentos que mais tem se beneficiado do sensoriamento remoto. O detalhamento e a riqueza de informações das imagens de satélites as tornam ferramentas ideais para a estimativa de safras agrícolas e o estudo do espaço rural, tendo como vantagem adicional o custo mais baixo, em relação a outras técnicas para mapeamento do solo.

Usuários conquistados, uma das preocupações agora é manter o fornecimento de imagens. Para isso, já está confirmado o lançamento de mais três satélites, garantindo o fornecimento ininterrupto de dados.

"Sabíamos desde o início que o satélite era adequado às nossas maiores necessidades, como o monitoramento ambiental. Porém, ficamos surpresos com a enorme demanda por informação no Brasil. Só o fato de o produto ser gratuito não explica a grande procura. Se a imagem não tivesse utilidade, não teríamos tantos pedidos", fala Gilberto Câmara, coordenador geral de Observação da Terra do INPE.

Continuidade
No início, o Programa CBERS previa o desenvolvimento e construção de dois satélites de sensoriamento remoto que também levassem a bordo, além de câmeras imageadoras, o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais. Os CBERS-1 e 2 são idênticos em sua constituição técnica e cargas úteis. O CBERS-2B apresentará alguns avanços. O principal deles é a inclusão de uma câmara de alta resolução, HRC, com 2,5 metros de resolução. Esta substituirá a IRMSS. As câmaras CCD, de resolução espacial de 20 metros, e WFI, com 250 metros de resolução, serão mantidas no CBERS-2B. Para os CBERS 3 e 4, a evolução será mais significativa. Tanto os imageadores como a própria estrutura do satélite serão mais sofisticados.

O CBERS-2B, que substituirá o CBERS-2, será montado, integrado e testado no Brasil, nas instalações do Laboratório de Integração e Testes (LIT) do INPE, em São José dos Campos. É preciso simular todas as condições que o satélite irá enfrentar desde o seu lançamento até o fim de sua vida útil no espaço. Este trabalho é imprescindível, pois na ocorrência de alguma falha não é possível fazer a manutenção do equipamento em órbita.

"Quando o LIT foi inaugurado, em 1987, era adequado para testar satélites de pequeno porte, cerca de 300kg. O CBERS tem 1.500kg. Estamos continuamente nos modernizando para atender à demanda de nosso programa espacial", diz Clóvis Solano, chefe do LIT, laboratório com estrutura única na América do Sul e que está entre os mais modernos do mundo.

Desde que foi inaugurado, o LIT recebeu investimentos da ordem de 100 milhões de dólares. As últimas aquisições foram uma câmara acústica reverberante, uma nova câmara de grande porte para balanceamento térmico e uma câmara anecóica.

Atualmente, o INPE se prepara para a campanha de montagem, integração e testes (AIT) do CBERS-2B, juntamente com os parceiros da CAST. Após essa etapa, o satélite será transportado diretamente para o Centro de Lançamento na China, para a campanha de lançamento, que deverá ocorrer até o final de outubro de 2006, três anos após o lançamento do CBERS-2. A participação do Brasil, no projeto do CBERS-2B, será de 30%, ficando a China com 70%. Segundo esta proporção, o investimento brasileiro será de aproximadamente US$ 15 milhões, já incluindo os custos de lançamento. O custo total do CBERS-1 e CBERS-2 foi de US$ 118 milhões para o Brasil.

Já nos CBERS 3 e 4, as responsabilidades tanto financeiras como no desenvolvimento e construção dos satélites estarão divididas em partes iguais. China e Brasil investirão US$ 150 milhões cada um.

O aprendizado tecnológico talvez seja o melhor resultado do programa sino-brasileiro. O país ganhou conhecimento e experiência na área espacial. "O Brasil precisa de tecnologia para crescer. Não estamos falando de gastos, mas de investimentos, que serão revertidos em riqueza para o país", resume Leonel Perondi, diretor interino do INPE.

Mais informações sobre o CBERS em www.cbers.inpe.br. No site, há fotos em alta resolução para download(http://www.cbers.inpe.br/pt/imprensa/fotografia2.htm)


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