Notícia
Seca na Amazônia em 2005
São José dos Campos-SP, 19 de outubro de 2005
O CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) juntamente com o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) traz de forma sucinta ao público informações esclarecedoras sobre a problemática da seca na Amazônia durante o ano de 2005.
A Seca de 2005:
A atual seca que está afetando boa parte da região Amazônica, especialmente o setor sudoeste do Amazonas e Estado do Acre, caracteriza-se por possuir o menor índice pluviométrico nos últimos 40 anos, ultrapassando períodos como os de 1925-1926, 1968-1969 e 1997-1998, até então considerados os mais intensos.
Ao se analisar os dados de precipitação no setor sul da Amazônia, verificou-se que durante a estação chuvosa de 2005, que na realidade estendeu-se de dezembro de 2004 a março de 2005, as chuvas apresentaram-se com valores de até 350 mm menores que a média histórica. Isto contribuiu para que os níveis dos rios desta região estivessem com valores bem abaixo da média no final da estação chuvosa de verão e no início do período de estiagem, que ocorre de maio a setembro. Em 2005, notou-se uma estiagem mais severa durante todos os meses do ano. Na análise dos níveis médios do Rio Negro em Manaus, desde 1903 até setembro 2005, observa-se que valores muito baixos aconteceram também nos anos de 1925-26 (ano de El Nino), e em 1963-64. Nos meses de verão de 2005 os níveis do Rio Negro foram em média de 1.5 a 2 metros acima do normal, e a partir de agosto os valores chegaram até 4 metros abaixo do normal.
Regime de chuva na região:
Climatologicamente, a região Amazônica possui precipitação média anual de aproximadamente 2.200 mm por ano, embora tenham regiões (na fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela) e próxima a Foz do Rio Amazonas em que o total anual pode ultrapassar 3.500 mm por ano.
O setor sul da região, que compreende a região afetada pela seca, tem período de chuvas compreendido entre novembro e março, sendo que o período de seca ocorre entre os meses de maio e setembro. Os meses de abril e outubro são meses de transição entre um regime e outro.
A distribuição de chuva no trimestre Dezembro-Janeiro-Fevereiro (DJF) apresenta uma região de precipitação alta (superior a 900 mm) situada na parte oeste e sul da Amazônia. O período de Marco-Abril-Maio (MAM) representa a estação chuvosa na região central da Amazonia próxima ao equador, já no trimestre Junho-Julho-Agosto (JJA), acontece o período de estiagem na Amazônia e o centro de máxima precipitação desloca-se para o norte, situando-se sobre Roraima e o Norte da América do Sul. Neste período de estiagem em JJA, a região Amazônica, principalmente na parte central, está sob o domínio do ramo descendente da Célula de Hadley (célula de circulação atmosférica com ventos ascendentes no Atlântico Tropical Norte e descendentes na região Amazônica), induzindo um período seco bem característico que perdura até aproximadamente os meses de setembro e outubro no sul da Amazônia e um mês mais tarde na Amazonia central.
Quais são as possíveis causas da seca de 2005?
O fenômeno de deficiência de chuvas na região do Sul foi observado também em 2004, onde as vazões dos rios e as chuvas foram menores que o normal, mas sem atingir os valores extremamente baixos observados em 2005.
Um dos possíveis fatores responsáveis por esta seca intensa de 2005 estaria provavelmente relacionado ao comportamento médio da temperatura da superfície do mar (TSM) nos últimos meses na bacia do Atlântico Tropical Norte, que tem se apresentado mais quente que o normal nos últimos 12 meses. Como é característico desta época do ano, o movimento ascendente do ar que normalmente ocorre no Atlântico Tropical Norte, associado à célula de Hadley, está mais intenso este ano e a zona de convergência intertropical ainda está no Hemisfério Norte. Conseqüentemente, esta intensificação da circulação atmosférica faz com que os movimentos descendentes especialmente sobre o sudoeste da Amazônia sejam mais intensos do que a média, o que dificulta a formação de nuvens e, portanto, de chuva na região. Adicionalmente, nos últimos dois meses a seca tem se agravado devido ao anticiclone do Atlântico Sul que se tornou mais intenso, estendendo-se até o continente e gerando uma região de estabilidade atmosférica que não favorece a formação de chuva no Sul da Amazônia.
Há especulações de que o prolongado período de estiagem nestas regiões mais afetadas pode estar ocasionando um efeito local que contribuiu mais ainda para a diminuição das chuvas. Este efeito seria uma diminuição da reciclagem de vapor d'água pela vegetação devido à própria estiagem, implicando um feedback positivo reduzindo possivelmente as chuvas locais. Além disso, a queima de biomassa que produz fumaça pode alterar a física da formação de chuva no sul da Amazônia, e possivelmente adiar o inicio da estação chuvosa. Não se tem evidências de que esta seca de 2005 seja um indicador de mudanças climáticas na região, associadas ao desmatamento ou aquecimento global. A Seca de 2005 parece ser parte de uma variabilidade natural de clima, onde anos secos e úmidos alternam-se na escala interanual.
A previsão:
A previsão sazonal de clima (tendência média do estado da atmosfera), em caráter experimental, para os próximos 3 meses (Novembro-Dezembro/2005 e Janeiro/2006) indica:
Para o sudoeste do Estado do Amazonas e Acre: tendência de continuação de chuvas abaixo da média climatológica (previsão com baixa confiabilidade),
Para o centro-norte dos Estados de Roraima, do Amapá e no noroeste do Pará: chuva variando de normal a ligeiramente acima da média climatológica (previsão com confiabilidade média), e
Para o restante da Região Norte: tendência de chuvas próximas da média climatológica (previsão com confiabilidade média).
Em relação a previsão de temperatura para o mesmo período, a previsão indica tendência de temperatura de normal a acima da média histórica em toda a Região.
O CPTEC/INPE e o INMET continuarão monitorando o quadro de estiagem na Amazônia e voltará a divulgar boletins oportunamente.
CPTEC/INPE e INMET
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