Notícia
Emissões de CO2 diminuíram em 2008, mas são as maiores em 2 milhões de anos
São José dos Campos-SP, 18 de novembro de 2009
O balanço anual de emissões feito por cientistas ligados ao Global Carbon Project aponta que as concentrações de gás carbônico (CO2) na atmosfera são as maiores em pelo menos 2 milhões de anos. O estudo, divulgado nesta semana pela prestigiada revista científica Nature Geoscience, tem entre seus autores Jean P. Ometto, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CST/INPE).
Com repercussões diretas no clima, as variações do CO2 na atmosfera terrestre são em grande parte determinadas pelo homem, devido a atividade industrial, queima de combustíveis fósseis, desmatamentos e outras mudanças no uso da terra.
Segundo o estudo, o aumento na concentração de CO2 atmosférico foi de 1,8 ppm em 2008, ligeiramente abaixo da média para o período 2000-2008, que foi de 1,9 ppm por ano (ppm = partes por milhão). Esse aumento trouxe a concentração atmosférica de CO2 para 385 ppm em 2008, 38% acima do registrado no início da Revolução Industrial (cerca de 280 ppm em 1750). Esta seria a concentração mais elevada pelo menos dos últimos 2 milhões de anos.
Combustíveis fósseis
Para este estudo, os cientistas utilizaram dados das emissões mundiais causadas pela atividade industrial, pelas mudanças no uso da terra e por combustíveis fósseis, estes apontados como os maiores responsáveis pelo aumento do CO2 em 2008.
O total de 8,7 PgC (1 Pg = 1 bilhão de toneladas) significa crescimento de 29% em relação às emissões por combustíveis fósseis registradas em 2000, e de 41% a mais que em 1990. A maior fonte do setor é o carvão, cuja queima aumentou 90% na China e na Índia. Ainda assim, os países desenvolvidos continuam a liderar as emissões por combustíveis fósseis, que atingiram 1,3 toneladas de carbono.
Outro aspecto interessante do estudo aponta que cerca de um quarto do aumento recente nas emissões dos países em desenvolvimento resultam do crescimento do comércio internacional e da produção para consumo nos países desenvolvidos.
Os dados mostram que a Índia ultrapassou a Rússia como terceiro maior emissor de CO2 pela queima de combustíveis, enquanto a China e os Estados Unidos permanecem em primeiro e segundo lugar, respectivamente.
Os países em desenvolvimento, que concentram 80% da população mundial, ainda representam cerca de 20% das emissões acumuladas desde 1751. Já os países mais pobres, com 800 milhões de pessoas, causaram menos de 1% destas emissões cumulativas.
Apesar da diminuição provocada pela crise econômica mundial, as emissões por combustíveis fósseis ainda seguem os piores cenários propostos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC.
Uso da terra
Já as mudanças no uso do solo foram responsáveis pela emissão anual de cerca de 1,5 PgC nos últimos 15 anos. Estas emissões são quase totalmente associadas ao desmatamento nos trópicos. O Brasil e a Indonésia são apontados como os causadores de 61% das emissões deste setor. No entanto, a redução recente nas taxas de desmatamento nestas regiões contribuiu para diminuir em 12%, no ano de 2008, o total das emissões relacionadas às atividades humanas. Em termos de quantidade de carbono, este total chega a 1,3 PgC.
Em média cerca de 45% das emissões anuais de CO2 ficam na atmosfera, sendo o restante absorvido pelos oceanos e pelos ambientes terrestres. No entanto, estes sistemas não conseguem absorver o carbono na mesma intensidade que a crescente taxa das emissões, o que acarreta em uma fração cada vez maior retida na atmosfera. Isto é uma preocupação séria, já que indica a vulnerabilidade dos sistemas naturais ao contínuo aumento das emissões de carbono pelas atividades humanas, diz Jean P. Ometto, do INPE.
Mais informações no site
http://www.globalcarbonproject.org/
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