Notícia
INCT mapeará riscos do aquecimento global para 10 cidades brasileiras
São José dos Campos-SP, 19 de maio de 2009
Sediado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INTC-MC) vai mapear as vulnerabilidades de dez grandes cidades brasileiras diante dos impactos das mudanças climáticas. De acordo com o coordenador do INCT, Carlos Nobre, a finalidade é identificar os problemas para direcionar as políticas públicas de adaptação das cidades e facilitar o cálculo do custo do aquecimento global para a economia brasileira.
Os mapas deverão indicar as fragilidades dos centros urbanos diante de impactos do aquecimento global ligados à saúde como o aumento ou surgimento de novas doenças e a situação das zonas costeiras, que perderão área com a elevação do nível do mar. Além disso, serão abordadas as áreas de ecologia urbana, recursos hídricos e desastres naturais, como as cheias e secas extremas que têm atingido o país nos últimos meses.
Com investimento inicial de cerca de R$1 milhão, o diagnóstico vai começar pelas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, e os primeiros resultados serão divulgados em março de 2010. Os estudos para Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte e Belém ainda dependem de recursos, que estão sendo negociados com o Ministério do Meio Ambiente, segundo Nobre.
Os mapas serão mais qualitativos do que quantitativos, de acordo com o pesquisador, inclusive pela falta de estudos específicos sobre as cidades para subsidiar o levantamento. Por exemplo, para detalhar com mais precisão os impactos do aumento do nível do mar no Rio de Janeiro seriam necessários mapas topográficos com resolução de 1 e 2 centímetros, os atuais têm resolução de meio metro, citou. É importante ter um primeiro mapa para mostrar a direção aos tomadores de decisão. É uma maneira de achar um atalho mais rápido para implementar medidas que são urgentes.
Os resultados poderão subsidiar políticas de governo locais e nacionais de investimentos em adaptação para os impactos do aquecimento global, inclusive o Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas.
Apesar da preocupação com as cidades, Carlos Nobre argumentou que não se pode desviar o foco do debate sobre mudanças climáticas no Brasil decorrentes do desmatamento da Amazônia, principal fonte de emissões de gases de efeito estufa do país.
Reduzindo as emissões nas cidades não vamos reduzir significativamente emissões brasileiras. A ênfase na redução de emissões nas cidades não pode ser maior que a ênfase na redução do desmatamento. As cidades têm que ter relacionamento muito forte com emissões de desmatamento e de agricultura, ponderou.
Este estudo sobre Mudanças Climáticas e Cidades também está na agenda da Rede CLIMA, na sub-rede coordenada por Daniel Hogan, da Unicamp. Estabelecida pelo MCT, a Rede CLIMA tem sua Secretaria Executiva exercida pelo INPE.
Com informações da Agência Brasil
O INCT para Mudanças Climáticas
O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em parceria com órgãos federais e estaduais, está financiando o estabelecimento de dezenas de centros de excelência (chamados de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia) em todas as áreas do conhecimento, num investimento total acima de R$ 500 milhões. Metade dos recursos foi alocada para 19 áreas estratégicas, entre elas Mudanças Climáticas. Um dos INCTs aprovados é o INCT para Mudanças Climáticas, que tem o INPE como instituição sede.
O INCT para Mudanças Climáticas - que foi agraciado com financiamento de R$ 7,2 milhões por três anos provenientes do CNPq e da FAPESP - irá implantar e desenvolver uma abrangente rede de pesquisas interdisciplinares em mudanças climáticas e se embasa na cooperação de 76 grupos de pesquisa nacionais de todas as regiões do país e 16 grupos de pesquisa internacionais da Argentina, Chile, EUA, Europa, Japão e Índia, envolvendo na sua totalidade mais de 400 pesquisadores, estudantes e técnicos e constituindo-se na maior rede de pesquisas ambientais implantada no Brasil.
Espelhando-se na estrutura do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), este INCT se organiza em três eixos científicos principais: base científica das mudanças ambientais globais; estudos de impactos-adaptação-vulnerabilidade; e mitigação. Além disso, tem um forte componente de inovação tecnológica em três áreas: modelos do sistema climático, geo-sensores e sistema de prevenção de desastres naturais.
Os objetivos do INCT para Mudanças Climáticas são: (i) detectar mudanças ambientais no Brasil e América do Sul, especialmente as mudanças climáticas, atribuir causas às mudanças observadas (aquecimento global, mudanças dos usos da terra, urbanização, etc.); (ii) desenvolver modelos do Sistema Climático Global e desenvolver cenários de mudanças ambientais globais e regionais, particularmente cenários em alta resolução espacial de mudanças climáticas e de usos da terra para o Século XXI; (iii) aumentar significativamente os conhecimentos sobre impactos das mudanças climáticas e identificar as principais vulnerabilidades do Brasil nos seguintes setores e sistemas: ecossistemas e biodiversidade, agricultura, recursos hídricos, saúde humana, cidades, zonas costeiras, energias renováveis e economia); (iv) desenvolver estudos e tecnologias de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, e v) fornecer informações científicas de qualidade para subsidiar políticas públicas de adaptação e mitigação. Esta temática científica está organizada em 26 sub-projetos de pesquisa.
Este INCT está diretamente associado à Rede Brasileira de Mudanças Climáticas (Rede CLIMA), do MCT, e sua estrutura irá cobrir todos os aspectos científicos e tecnológicos de interessa àquela Rede. Adicionalmente, o Programa irá fornecer articulação, integração e coesividade científicas para a Rede CLIMA e, em contrapartida, mecanismos financeiros existentes para esta Rede fornecerão financiamento suplementar para a implementação deste INCT.
A Rede CLIMA
A Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede CLIMA) foi instituída pelo MCT no final de 2007 e tem como objetivo principal gerar e disseminar conhecimentos para que o Brasil possa responder aos desafios representados pelas causas e efeitos das mudanças climáticas globais.
A abrangência da Rede CLIMA é nacional, envolvendo dezenas de grupos de pesquisa em universidades e institutos, e seu foco científico cobrirá todas as questões relevantes das mudanças climáticas. A Rede CLIMA é coordenada por um Conselho Diretor e assessorada por um Comitê Científico. A Secretaria Executiva é exercida pelo INPE.
A economia brasileira tem expressiva base em recursos naturais renováveis, o que torna o país potencialmente vulnerável às mudanças climáticas, vulnerabilidade esta acentuada pelas disparidades regionais de desenvolvimento.
Numa visão de longo prazo, as mudanças climáticas globais apresentam risco sem precedentes à civilização e o Brasil reúne potencialidades para contribuir à diminuição deste risco em função de nossa abundância de recursos naturais. No entanto, a realização deste potencial depende do aumento do conhecimento científico.
A Rede CLIMA constitui-se em fundamental pilar de apoio às atividades de Pesquisa e Desenvolvimento para o Plano Nacional de Mudanças Climáticas e ensejará o estabelecimento e consolidação de comunidade científica e tecnológica preparada para atender plenamente às necessidades nacionais de conhecimento, incluindo a produção de informações para formulação e acompanhamento das políticas públicas sobre mudanças climáticas e para apoio à diplomacia brasileira nas negociações sobre o regime internacional de mudanças climáticas.
Um dos primeiros produtos colaborativos da Rede CLIMA será a elaboração regular de análise sobre o estado de conhecimento das mudanças climáticas no Brasil, nos moldes dos relatórios do IPCC, porém com análises setoriais mais especificas para a formulação de políticas públicas nacionais e internacionais.
Mapa das sub-redes temáticas de Rede Clima
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