Notícia
INPE e Vale lançam relatório sobre mudança do clima no norte do país
São José dos Campos-SP, 09 de setembro de 2008
A Vale e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) estão lançando o primeiro de uma série de três relatórios sobre mudança do clima e seus impactos na vegetação, agricultura, biodiversidade e capacidade de geração de energia nos Estados do Pará e do Maranhão, onde a empresa possui importante presença.
O INPE estuda os efeitos das mudanças climáticas no Brasil desde 2005. O relatório lançado nesta terça-feira (9/9) em Belém é inédito pelo nível de detalhamento regional, pela inclusão de projeções para períodos mais recentes (a partir de 2010) e pela consideração de dados meteorológicos do INMET.
Neste primeiro relatório, os pesquisadores do INPE estudaram a variação do clima e da temperatura em três períodos: 2010-2040, 2041-2070 e 2071-2100. Este será a base de informação para a elaboração dos relatórios subseqüentes, estes com finalizações previstas para março/abril de 2009.
O estudo combinou os critérios de avaliação climática adotados no AR4 - Fourth Assessment Report, do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU) com três modelos regionais (Eta CCS, do próprio INPE, o RegCM3, da Universidade de São Paulo, e HadRM3P, do Haddley Centre, do Reino Unido). Foram utilizadas informações de 36 estações pluviométricas e climatológicas espalhadas pela região 10 da Agência Nacional das Águas (ANA) e 26 do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).
Os pesquisadores consideraram dois cenários do IPCC para a elaboração da análise: A2 (mais pessimista, com alta concentração de emissões de gases do efeito estufa) e B2 (mais otimista, com baixa concentração de emissões de gases do efeito estufa, considerando o cumprimento das metas do protocolo de Kyoto).
Em resumo, o relatório mostra que o clima da região se tornará cada vez mais quente e seco, com reduções de chuva que podem ficar entre 2 e 4 mm/dia, no período de 2071-2100, quando comparado com o atual clima da região. A temperatura deve aumentar em toda a região leste do Pará até o Nordeste, chegando até 7 oC nas regiões do leste da Amazônia e no norte do Maranhão no cenário A2, sendo o aquecimento menor (até 4 oC) no cenário B2. O aquecimento é observado na média anual e nos meses de verão e inverno e tem algumas variações entre os modelos, ressalta o estudo, que faz uma análise detalhada para cada estação do ano. As reduções de precipitação nas áreas leste do Pará (próximos à foz do Rio Amazonas) e norte do Maranhão podem variar entre 40% e 60% no cenário A2 e entre 20 e 40% no cenário B2.
Esses resultados levam a concluir que a área de estudo apresenta uma vulnerabilidade climática muito alta, comparável ao semi-árido do Brasil, consistente com um clima futuro mais seco que o atual, com algumas áreas recebendo chuvas intensas concentradas em períodos curtos, seguidos de longos períodos sem ocorrência de chuva e com altas temperaturas diurnas e noturnas. Nestas condições, o balanço hidrológico poderá sofrer alterações, ocorrendo período de deficiência hídrica futura, atualmente inexistente no clima atual e, conseqüentemente, afetar a vegetação nativa e a agricultura regional, afirmam os pesquisadores do INPE no estudo.
Para os demais períodos (2010-2040 e 2041-2070), os pesquisadores utilizaram o modelo HadRM3P, do Haddley Centre, do Reino Unido, e concluíram que as variações de clima e temperatura apontam para alterações gradativas e não apresentam grandes diferenças entres os cenários A2 e B2. No período de 2010-2040, a redução de chuva estimada está entre 5% e 10% e, em 2041-2070, de 10% a 20% entre o leste do Pará e o estado do Maranhão. Com relação à temperatura, pode ficar até 2 oC mais quente na área que abrange o leste do Pará até o Maranhão, entre 2010-2040, e até 4 oC mais quente no período de 2041-2070.
Os pesquisadores do INPE ressaltam, porém, que, apesar dos vários modelos utilizados, ainda existe um grau de incerteza em relação ao futuro cenário climático do planeta e que essa incerteza aumenta quando se avalia com maior detalhamento os cenários regionais.
O objetivo dos relatórios é elevar o nível de conhecimento em relação aos impactos do aquecimento global naquelas regiões e, desta forma, criar subsídios para o estabelecimento políticas públicas e de medidas preventivas para suas operações. Para a Vale, o estudo coordenado pelo INPE é um importante elemento na construção da sua estratégia de desenvolvimento sustentável para a região.
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