Notícia
CPTEC/INPE e Centro de Previsão do Reino Unido definem agenda de cooperação
São José dos Campos-SP, 29 de maio de 2008
Cientistas brasileiros e do Reino Unido da área de meteorologia estão negociando uma agenda de cooperação, que inclui desde a troca de experiência e de informações até programas de visitas e intercâmbios por pelo menos um ano entre estudantes de pós-graduação e pesquisadores das duas instituições. As conversas vêm sendo mantidas desde meados de maio entre pesquisadores do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do INPE, e do Centro de Previsão do Reino Unido (United Kingdom Met Office - UKMet).
Segundo o pesquisador Dirceu Herdies, um dos interlocutores do CPTEC/INPE nas negociações, os cientistas ingleses do UKMet vêem demonstrando grande interesse de cooperação em diversas áreas da meteorologia. Esta é a primeira vez que as duas instituições iniciam entendimentos para definir um plano de trabalho conjunto.
Apesar de os primeiros contatos terem focado a pesquisa de sondagem e modelagem atmosférica e assimilação de dados (que são utilizados nos modelos de previsões meteorológicas), as oportunidades estão sendo abertas a outras áreas da meteorologia. As conversas estão mais avançadas nas áreas de uso de sensores a bordo de satélite para sondagem, medidas de aerossóis, análise de poluição e gases traços, monitoramento de produtos AMV (Atmospheric Motion Vector) para monitorar ventos -, técnicas de assimilação de dados atmosféricos e meteorologia tropical.
O primeiro contato entre o CPTEC/INPE e o UKMet, do Reino Unido, ocorreu durante a 16ª Conferência Internacional de Estudos do ATOVS (do inglês, International TOVS Study Conferences" - ITSC16), realizada durante o mês de maio, em Angra dos Reis (RJ). Durante o evento, que aconteceu pela primeira vez no Brasil, cerca de 120 pesquisadores e especialistas dos principais centros de excelência do mundo - a maioria europeus e americanos - trocaram informações e discutiram o mais recentes avanços na área de sondagem e de assimilação de dados. Estas duas áreas também estão interligadas no processo de previsão meteorológica.
Entre os temas da conferência, foram apresentados trabalhos na área de sondagem atmosférica por satélite; o uso de novos sensores, como o Infrared Atmospheric Sounding Interferometer (Sondador Atmosférico no Infravermelho) IASI - a bordo do satélite METOP; modelos de assimilação, que processam os dados atmosféricos observados para serem utilizados nos modelos de previsão de tempo; entre outros.
Em paralelo aos avanços tecnológicos de sensores orbitais, há um grande esforço internacional, do qual participa o CPTEC/INPE, de pesquisa e desenvolvimento de métodos e algoritmos para que os dados coletados de forma bruta nas sondagens possam ser decodificados e, posteriormente, inseridos e assimilados aos modelos de previsões meteorológicas. O Brasil, através do CPTEC/INPE, é o único país da América do Sul que gera dados próprios de sondagem para a região (a partir de instrumentos a bordo de satélites meteorológicos) e também o único com um sistema de assimilação de dados operacional.
Segundo a coordenadora do CPTEC/INPE, Maria Assunção Dias, a autonomia científica nestas duas áreas representa um importante marco na evolução da pesquisa e do desenvolvimento da instituição, redundando na melhoria das previsões. Este padrão científico conquistado pelo CPTEC/INPE é o que possivelmente faz com que reconhecidos centros de pesquisa, como o UKMet e o Centro Europeu (ECMWF), tenham interesse de cooperar conosco. Por outro lado, destaca Assunção, o CPTEC/INPE deve aproveitar estas oportunidades para superar novos desafios e continuar avançando.
Sondagens, assimilação e a melhoria das previsões
Modelos de previsão de tempo e clima processam dados atmosféricos coletados por estações e bóias meteorológicas, instaladas na superfície (terra e oceanos) e de ar superior, e também obtidos por sondagens de satélites. As sondagens traçam o perfil vertical da atmosfera fornecendo o registro da composição e do estado da atmosfera por níveis de altitude e são consideradas essenciais quando há falta e escassez de dados de superfície, como ocorre em diversas regiões da América do Sul.
As sondagens atmosféricas de satélites meteorológicos têm dado uma grande contribuição à melhoria das previsões de tempo e clima nos últimos 15 anos, afirma Luiz Augusto Machado, da Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais (DSA), do CPTEC/INPE. Por outro lado, afirma Dirceu Herdies, um esforço no desenvolvimento de modelos de assimilação é fundamental para que tais dados possam ser integrados a modelos de previsão de tempo. O CPTEC/INPE possui e roda operacionalmente um modelo próprio de assimilação desde 2001 e pretende colocar em operação um sistema mais avançado, baseado em Filtro de Kalman, até o final de 2008.
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