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LBA atesta competência do INPE e valoriza sistema DETER
São José dos Campos-SP, 12 de maio de 2008
O Comitê Científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) divulgou carta em que manifesta apoio ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) na tarefa de monitorar o desmatamento através do sistema DETER. Para o LBA, seus resultados são de valor inestimável para a comunidade científica e a sociedade brasileira como um todo.
Desde fevereiro, cientistas de vários centros de pesquisa e ambientalistas ligados a algumas das ONGs mais respeitadas do país têm manifestado seu apoio ao INPE. Confira, a seguir, a íntegra da carta do LBA:
CARTA ABERTA DO COMITÊ CIENTÍFICO DO LBA
Nos últimos meses, a Amazônia foi novamente foco de intensos debates em decorrência do alerta feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) com base nos dados do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER), que indicavam aumento significativo nos índices de desmatamento entre outubro de 2007 e fevereiro de 2008, em relação ao mesmo período dos anos anteriores.
O assunto foi amplamente explorado pela imprensa brasileira e internacional e, dentre as opiniões veiculadas, alguns interlocutores com interesses econômicos e políticos diretamente vinculados ao processo de desmatamento da Amazônia questionaram a qualidade das estimativas de desmatamento apresentadas pelo INPE.
Para que o debate seja produtivo, é preciso ter clareza sobre as características e objetivos dos dois sistemas de monitoramento do desmatamento desenvolvidos pelo INPE. O DETER, que utiliza imagens de satélite com moderada resolução espacial e alta resolução temporal, tem a função de monitorar o processo de desmatamento e degradação da floresta. Assim sendo, o DETER não tem como objetivo estimar a área total desmatada na Amazônia. Produz análises quinzenais que orientam ações expeditas do poder público em tempo quase real. Já o PRODES utiliza imagens de satélite com alta resolução espacial e baixa resolução temporal. Sua função é contabilizar anualmente a área total desmatada (corte raso das áreas de florestas) na região. Ambos os sistemas são espacialmente explícitos e com interface para usuários na Internet. Suas características estão descritas no sítio eletrônico do INPE (www.inpe.br).
Por seu compromisso com as questões científicas relacionadas com a região, o Comitê Científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) vem a público reconhecer a seriedade e competência do INPE no monitoramento do desmatamento da Amazônia e incentivar a continuidade e o desenvolvimento desses esforços, cujos resultados são de valor inestimável para a comunidade científica e a sociedade brasileira como um todo. Dessa forma, visa contribuir para esclarecer a opinião pública sobre a complexidade do processo de ocupação e desmatamento da Amazônia brasileira, bem como das questões envolvidas no seu monitoramento.
O Programa de Grande-Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) é uma iniciativa interdisciplinar que busca entender o funcionamento dos ecossistemas amazônicos e estudar o sistema amazônico como uma entidade regional, assim como as causas e efeitos das mudanças em curso na região. A pesquisa no LBA é orientada pelo reconhecimento de que a Amazônia está sob rápida e intensa transformação, relacionada ao processo de desenvolvimento e ocupação. Com essa finalidade, investiga como as mudanças no uso e cobertura da terra e no clima poderão afetar os processos biológicos, químicos e físicos, e o desenvolvimento sustentável na região, além de sua interação com o clima regional e global.
A história do LBA está intrinsecamente ligada ao INPE desde sua concepção em 1993. A partir da aprovação do Plano Científico do LBA em 1996 até 2002, o INPE abrigou o escritório central do programa hoje instalado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Contribuindo para a formação de uma vibrante comunidade científica interdisciplinar, vários pesquisadores daquela instituição estão na origem do LBA e continuam atuando até hoje neste Programa que têm gerado resultados reconhecidos nacional e internacionalmente sobre e para a Ciência Amazônica.
A questão do desmatamento da Amazônia não é simples e nem tem solução óbvia. Os processos de mudança de uso e cobertura da terra naquela região são dinâmicos e dependem de fatores biofísicos e humanos. O uso de sensores remotos para a execução desse monitoramento é fundamental, propiciando uma visão sinóptica sobre o processo.
Nesse sentido, o INPE tem prestado um serviço inestimável ao país, através do desenvolvimento e implementação de sistemas de monitoramento do desmatamento de reconhecida excelência e pioneirismo, inclusive pela comunidade científica internacional.
As prestigiosas revistas científicas internacionais como Science, em 2007, e Nature, em 2008, destacaram em editoriais a importância e qualidade dos sistemas de monitoramento de desmatamento desenvolvidos pelo INPE.
Apesar dos resultados científicos importantes produzidos recentemente sobre o entendimento da dinâmica de uso e cobertura da terra na Amazônia, tendências recentes como o crescimento da pecuária de corte, o avanço da cultura da soja, os programas de agroenergia e os diferentes modelos de exploração madeireira podem resultar em continuidade de altos índices de desmatamento na utilização dos recursos naturais pelos agentes humanos, gerando impactos ambientais e sociais negativos.
Estão em curso mudanças substanciais nos sistemas de produção na Amazônia. É importante estudar como a dinâmica da conversão dos sistemas atuais de produção na Amazônia para sistemas produtivos mais intensivos incluindo atividades agrossilvopastoris, exploração florestal sustentável e valorização dos serviços ambientais dos ecossistemas afeta o funcionamento físico, biológico e hidrológico da região, objetos da segunda fase do Programa LBA que ora se inicia.
A Amazônia é grande e importante demais para ser objeto de visões simplistas e utilitaristas. Só uma visão enriquecida por conhecimentos científicos e tecnológicos pode colocá-la no caminho de um desenvolvimento sustentável que garanta a conservação de suas florestas, cujos serviços ambientais tornam-se cada dia mais valorizados e essenciais para a qualidade de vida da população brasileira e mundial.
Comitê Científico do LBA
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